segunda-feira, 29 de outubro de 2018

E quando de um peluche surge um projeto?

Na reunião da manhã, a C. partilhou connosco o seu panda. Tinha-o trazido para a acompanhar na sua sesta.


O questionamento oferece ao educador “a oportunidade de acompanhar os processos de concretização do fazer de cada criança” (Luís, Andrade & Santos, 2015, p.526) e, através dessa compreensão, de a convidar a refletir sobre os seus conhecimentos. Por esse motivo, enquanto conversavamos sobre o panda da C., perguntei ao grupo "Onde é que moram os pandas?". Muitas respostas se fizeram ouvir:

"No festival do panda" (G.)
"No café" (M. e C.)
"Na quinta" (J.).

Decidimos, então, descobrir onde moram os pandas e, por isso, demos início ao nosso processo de pesquisa.

Fomos até à biblioteca da nossa escola ...




... visitamos outras salas ...



... e, claro, pedimos ajuda à nossa família.

Assim que chegamos ao recreio, L. foi ao encontro da sua irmã e perguntou-lhe "onde é que moram os pandas?"
Registo de observação
Em conversa com a mãe de G., a mesma partilhou comigo que, no caminho de regresso a casa do dia anterior, G. lhe havia perguntado onde é que moraram os pandas.
Registo de observação

Durante este processo de pesquisa, o Af. partilhou connosco que tinha descoberto que os pandas comem bambu. Havia, contudo, quem achasse que os pandas comiam outros alimentos e, portanto, decidimos alargar a nossa pesquisa e procurar nos livros que ja tínhamos recolhido a resposta para esta nova questão.



A L. presenteou-nos, ainda, com uma revista sobre pandas. Tinha fotografias tão interessantes, que nos deliciamos a observá-las e a legendar o que nelas observavamos.

"É o bebé [panda]. É a mamã." (V.)
"O panda está a gritar." (M. e P.)
"Os pandas estão a dormir." (M.)

Neste processo tão significativo, os desenhos sobre pandas foram enriquecendo as nossas paredes e as explorações da plasticina tornaram-se, também, cada vez mais complexas: da simples descoberta e fruição da plasticina passaram a nascer pandas nas mais variadas formas. "A arte permite-nos, seguramente, viver de forma mais criativa" (Guedes, 2006, p.6), ao mesmo tempo que nos ajuda a encontrar novas formas de comunicação.


Não poderíamos, contudo, terminar este projeto tão significativo sem o partilhar com os nossos pares e, por isso, decidimos encontrar-nos com a sala da Marta Botelho e partilhar as aprendizagens que descobrimos.


Enquanto profissional de educação, entendo os projetos como um compromisso "com a vida e o mundo, para acrescentar sentido à vida e ao mundo e, nessa viagem a fazer com muitos, acrescentamo-nos em humanidade" (Peças, 1999, p.57). Com efeito, acredito vivamente que os projetos podem nascer de partilhas tão simples como um peluche ou de uma afirmação tão genuína como "os pandas moram no Festival do Panda", porque é através destas partilhas que conhecemos a criança, que (re)construímos a cultura que integramos e que nos deixamos cativar pelo prazer da curiosidade e pelo espírito da descoberta. A verdade é que “todo ser humano constrói-se e constitui o mundo” (Bruner, 1997, citado por Kishimoto, 2007, p.266).



Referências bibliográficas:

Guedes, M. (2012). Projetos de arte. Fazer para aprender. Escola Moderna, 43, 6-11.

Kishimoto, T.M. (2007). Brincadeiras e narrativas infantis: contribuições de J. Bruner para a pedagogia da infância. In Oliveira-Formosinho, J., Kishimoto, T. M. & Pinazza, M. A. (Org.), Pedagogia(s) da Infância: Dialogando com o Passado, Construindo o Futuro (pp. 249-276). Porto Alegre: Artmed.

Luís, J. F. Andrade, S. & Santos, P. C. (2015). A atitude do educador de infância e a participação da criança como referenciais de qualidade em educação. Revista Brasileira de Educação, 61(20), 520-541.

Peças, A. (1999). Uma cultura para o trabalho de projeto. Escola Moderna, 6(5), 56-61.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

E quando a música nos aconchega o coração?

As manhãs de quarta feira são sempre de grande animação. A Margarida vem à nossa sala, é dia de música! Mas há quartas feiras que são mais especiais do que outras e a manhã de hoje foi mesmo muito especial.


Nos últimos tempos, temos revelado grande interesse em explorar as sonoridades de diferentes objetos (taças e colheres da sopa, copos de água, talheres, canetas ...). Com efeito, a Carolina e a Margarida pensaram em brindar-nos com a exploração de objetos do nosso quotidiano com fim a descobrirmos as suas potencialidades sonoras. Mal sabíamos a alegria que nos esperava ...

Depois de comunicarmos o nosso primeiro projeto, recebemos a visita da Margarida na nossa sala. Trazia um saco diferente consigo. O que traria lá?

Para começarmos a nossa sessão nada melhor do que cantarmos uma canção que tão bem conhecemos, mas, desta vez, não vamos acompanhar o canto com as maracas. Vamos cantar ao som de caixas de fósforos! Primeiramente, um grande espanto e alguma estranheza. Seguidamente, uma imensa satisfação e uma grande exploração.




As caixas de fósforos rapidamente deram lugar a rolos de papel que, para nosso espanto e imensa alegria, se transformaram em fantásticas cornetas! Houve, contudo, quem descobrisse que as mesmas serviam, também, de armónicas. É, de facto, quando exploramos que o processo criativo se constrói.






Às cornetas e armónicas disfarçadas de rolos seguiram-se as garrafas e as colheres, que tanto funcionaram como microfone, como foram usadas para servir de reco-reco. Houve, ainda, espaço para o martelo e a tábua do marisco nos presentearem com o seu som forte e animado. E o despertador deixou de ser o chato que nos acorda diariamente para passar a ser o dono da música desta orquestra.




No entanto, se houve objeto que fez sucesso foi o borrifador que nos salpicou a todos com água. Não fez, porém, um maior sucesso do que as folhas de jornal, que bem amachucadas um som muito interessante nos convidavam a ouvir. E claro que as folhas de jornal são sempre uma ótima deixa para jogarmos ao "cucu", que tanto adoramos.



E no meio de toda a desordem chegou a vassoura, para nos ajudar a limpar tudo. E não é que limpou mesmo? É que o seu som, afinal, não nos agrada assim tanto, mas varrer a sala é algo que adoramos (mesmo que varramos as folhas para baixo do tapete)!


De uma sessão de música diferente criamos uma orquestra. De objetos quotidianos formamos objetos musicais. De um momento quotidiano desenvolvemos a paixão pela música, o interesse pela exploração, a imaginação e a criatividade. Numa sala desarrumada aconchegamos corações, esboçamos sorrisos rasgados e ecoamos grandes gargalhadas. Fomos cantores, tocadores e integramos uma orquestra. Fomos exploradores, descobridores e construtores. Fomos felizes e fizemos felizes.

"Dificilmente conseguiremos contagiar os outros se não estivermos imbuídos de paixão pelo que fazemos."
(Machado, 2011, p.28)

Referência bibliográfica:
Machado, J. (2011). Pais que educam. Professores que amam. Lisboa: Marcador.

domingo, 21 de outubro de 2018

Para lá das quatro paredes ... da escola



As saídas e visitas à comunidade apresentam-se como uma ampliação das experiências das crianças, pelo que o contacto com os espaços naturais do contexto envolvente são experiências que enriquecem as vidas das crianças. Por esse motivo, esta semana foi uma semana de passeios. E sempre em parceria com as salas da Marta B. e da Marta R.

Com a chuva a dar-nos tréguas, na quarta feira, caminhamos com direção ao parque da Mata de Alvalade. Um parque totalmente novo para descobrirmos em grupo!

Ao chegarmos à mata logo começou o nosso deslumbramento: há árvores que são maiores do que outras, há folhas no chão e muitos paus. Tantos materiais para integrarmos na nossa área das ciências!
Ainda que tenhamos gostado muito de observar a paisagem, é claro que explorar o parque foi a nossa maior diversão...




Baloiços prontos a ajudarem-nos a ver o céu mais de perto ...





















... Um carrossel que gira tão rápido que nos convida a superar os nossos medos ...





... Uma montanha que escalamos e que nos ajuda a encontrar o sorriso alegre da Paty ...



... um escorrega cheio de encantos e de aventuras.


Foi uma manhã destinada a grandes explorações e muitas interações. Uma manhã de superações de medos e de desafios; de descobertas motoras e materiais; de pormenores e de altivez.


E se a manhã de quarta feira foi de grande animação, a manhã de sexta feira foi dedicada a uma grande exploração.
A manhã de sexta feira começou com alguma chuva, mas rapidamente o sol se fez descobrir e se preparou para nos acompanhar na nossa visita à Quinta Pedagógica dos Olivais.


Saímos com o propósito de contactar com a natureza e de ver os animais, mas as corridas livres e puras, as atitudes de cooperação e o espírito de entreajuda apresentaram-se aqui em todo o seu esplendor.





Saímos com o propósito de contactar com o mundo natural e de conhecer a comunidade, mas as relações com os nossos pares também foram fortalecidas com grande afinco.




As duas saídas desta semana, mais do que momentos privilegiados de contacto e conhecimento sobre os espaços naturais, foram momentos privilegiados de socialização. De facto, o contacto com o ar livre e com espaços amplos promovem em grande escala as relação interpessoais. Não obstante, sair conjuntamente com outras salas da nossa escola, com pares que integram o nosso quotidiano e que nos são tão queridos, acrescenta-nos enquanto pessoas e enquanto cidadãos. A construção do conhecimento é, sem dúvida, "um processo fundamentalmente social e interativo, ou seja, tem de ser construído com os outros e num dado contexto social" (Vala & Guedes, 2015, p.53).


Na nossa escola saímos muitas vezes e fazêmo-lo, porque acreditamos que estas saídas nos enriquecem culturalmente e enquanto grupo!


Referências bibliográficas:
Folque, M.A., Bettencourt, M. & Ricardo, M. (2015). A prática educativa na creche e o modelo pedagógico do MEM, Escola Moderna, 3, 13-34.
Vala, A. & Guedes, M. (2015). A importância das interações na construção das aprendizagens, Escola Moderna, 3, 53-63.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Vamos vindimar?

Pelas mãos da Ana e do João, pais do P., chegaram à nossa sala cinco baldes de uvas e uma banheira. "Uvas? O que é que vamos fazer com elas?", rapidamente nos questionamos perante tamanha curiosidade.

"Vamos vindimar!", responderam-nos os pais do P., que logo nos explicaram que com as uvas conseguimos fazer sumo de uvo ou vinho.




Pusemos mãos à obra e demos início às vindimas no nosso recreio!

Começamos por retirar as uvas dos cachos e, finda esta árdua tarefa, juntámo-las todas numa banheira.





Mas a melhor parte ainda estava para vir: aos pares entramos para a banheira e pisamos as uvas com os nossos pés! Houve quem o quisesse fazer e também houve quem optasse por observar ...Todas estas opções foram valorizadas e respeitadas, porque todas elas são formas de participação.



Depois das uvas bem pisadas, os pais do P. mostraram-nos que devemos verter o sumo para um pano e espremê-lo para um jarro. Assim, as graínhas não passam para o sumo. E que delicioso que estava este sumo!



Com tantos cachos de uvas à nossa disposição e toda uma manhã dedicada a esta exploração claro que este processo se repetiu muitas vezes. E se da primeira vez houve quem muito estranhasse, das vezes que se seguiram sentimo-nos verdadeiros vindimadores!

Uns optaram por retirar as uvas dos cachos ...




Outros preferiram pisar as uvas e, agora, até amassar ...



Outros escolheram lavar a loiça e, claro, brincar com a água...



Outros optaram por explorar as uvas e os cachos ao pormenor ...



Cada um com a sua forma de participação, porque participar significa decidir o modo como nos pretendemos envolver nas atividades e as explorações que queremos realizar. Participar é um direito da criança que só se concretiza na liberdade de escolha.

Participar no quotidiano de vida da escola é, também, um direito de todas famílias e quando abrimos as portas da nossa sala somos presenteados com experiências tão enriquecedoras. Experiências que trazem o mundo natural até nós na impossibilidade de nós podermos ir até ele. Experiências que estreitam os laços entre as famílias e todas as crianças do grupo. Experiências que fortalecem as relações entre a família e a escola. Experiências que nos ajudam a reconstruir cooperadamente a cultura que integramos.


OBRIGADA, João e Ana! 
Estamos todos de pés sujos e de coração (muito) cheio.