quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

"Posso-te ajudar?"

O refeitório da nossa escola é, efetivamente, um espaço de encontros. Nos momentos de refeição encontramo-nos sempre com outros grupos e partilhamos com eles as nossas refeições. Na passada sexta feira, juntamos duas mesas e reunimo-nos em grupo para lanchar. O leite integra os lanches de todas as sextas feiras e, para isso, precisamos de copos.

Em cima da mesa encontra-se um conjunto de copos todos empilhados.
S. agarra neste conjunto e tenta tirar um copo para si.
M. observa a ação, por mim anteriormente valorizada, e diz: "Eu também quero tirar o copo!".
"Agora está o S. a tentar, M. Tens que esperar um pouco, por favor.", verbalizo.
S. não consegue tirar nenhum copo e afasta o conjunto.
"Queres que o M. te ajude?", pergunto-lhe.
"Sim!", responde-me S. e eu entrego o conjunto de copos a M.
M. agarra no conjunto de copos e tenta desempilhar um copo. 
"Eu também quero!", diz L.
"Deixa o M. tentar e tu já tentas, L.", respondo.
M. percebe que não o consegue fazer e afasta os copos.
"Podes dar, então, à L. para ela tentar tirar?", proponho.
M. entrega os copos a L., que tenta desempilhar um, mas não o consegue fazer.
Proponho que L. entregue o conjunto de copos a R., que se encontrava a seu lado.
R. agarra nos copos e tenta desempilhar um copo, mas não o consegue fazer.
"Posso-te ajudar?", pergunta L. a R.
"Sim!", responde R. sorridente a L. e esticando-lhe os copos.
R. segura numa ponta e L. segura na outra ponta dos copos.
Sorriem e trocam gargalhadas enquanto continuam a tentar desempilhar os copos. 
Não conseguem fazê-lo, mas não se inquietam com isso. 
Continuam a sorrir e a partilhar gargalhadas.
Estão verdadeiramente felizes por partilharem esta tentativa conjuntamente.
Estão verdadeiramente felizes por estarem a cooperar entre si!
"Têm que tirar o de baixo. O de baixo é mais fácil!", explica X., que sendo mais velho já experienciou mais vezes esta ação.
"Olhem, o X. está a propor-vos uma coisa muito importante. Ora escutem lá. X., podes repetir, por favor?", intervenho.
"Tirem o copo de baixo. É mais fácil."
R. e L. tentam retirar o copo que se encontra no fim do conjunto, mas não o conseguem fazer.
"X., queres vir aqui ajudar-nos?", pergunto.
X. levanta-se e vem ao nosso encontro.
"O X. pode ajudar-vos?", pergunto a R. e a L.
R. e L. entregam felizes e curiosas os copos a X., que se esforça por retirar o último copo do conjunto e, passado algum tempo, consegue fazê-lo.
Todos sorriem.
"Obrigada, X.", digo.
"Obrigada!", repetem algumas crianças do grupo.

E quando nos questionamos sobre os benefícios da cooperação entre as crianças, entre as pessoas encontramos a resposta nestas ações. E quando nos questionamos sobre os benefícios da heterogeneidade encontramos as respostas nestas ações.

A educação é, sem dúvida, um ato de cooperação!

sábado, 22 de dezembro de 2018

Oh! Oh! Oh! É Natal!

O Natal chegou à nossa sala! 

Chegou com partilhas, com novidades, com fotografias e, até, com alguns objetos.
Entrou na nossa sala todos os dias um bocadinho mais e apresentava-se em todas as reuniões da manhã. Não quis de lá sair: nem das reuniões da manhã, nem da nossa sala.

"Carolina, eu montei a árvore de natal", partilhou o A.
"Eu também já montei!", confidenciou a G.
"A sério? Olhem que máximo! E montaram a árvore de natal com quem?", perguntei eu.
"Com a mãe, com o pai e com a mana", responderam o A. e a G.
"Eu ainda não montei a minha árvore", intriga-se o M.
"Eu também ainda não montei a minha, M., não faz mal. Cada família monta a sua árvore quando pode. Tu vais montar a tua com os teus pais e com a tua irmã", respondi.

"Ar., o que é que trouxeste para partilhar connosco?", pergunto.
"É a minha árvore de natal", responde Ar. apresentando a fotografia da sua árvore.
"Uau! Está mesmo gira! Montaste a tua árvore este fim de semana?", comentei.
"Sim, com a mãe e com o Du.", partilhou Ar.
"Então e o pai?"
"O pai não quis!"

"Eu trouxe o presépio!", explica J. a todo o grupo na reunião da manhã, enquanto retira de um saco as diferentes figuras do presépio.
"O presépio? O que é que é o presépio?", desafiei.
"É o menino Jesus, o Belchior, o Baltasar e o ... ", respondeu J.
"Gaspar!", ajudei.
"Sim, eles levaram prendas ao meninos Jesus"

Entre partilhas, conversas e descobertas chegou com uma árvore de natal que decidimos construir na nossa sala, com rolos de papel higiénico, papéis que rasgamos e colorindo com canetas que tanto gostamos de usar para desenhar.




Entre diálogos e debates entrou na nossa sala e deixou-nos com uma dúvida:
"O que é que é o Natal?"
"É a árvore de Natal" (R.)
"É receber presentes" (P.)
"É o presente da patrulha pata." (M.)
"É a mãe Elisabetta que dá miminhos" (Mi.)
"É brincar com a mana." (L.)

E sendo presentes, porque os presentes nos ajudam a mimar os outros, chegou com um presente que decidimos oferecer às nossas famílias. Um presente que surgiu de uma dúvida, que ajudou a encontrar a resposta para a mesmas e que respondeu a um dos nossos maiores interesses: cozinhar!





E sendo os miminhos da família, chegou com a presença das famílias do J. e do V. na nossa sala. Chegou com os primos do J. que nos contaram uma história de natal e nos deram uma aula de surf. Chegou com a família do V. que nos ajudou a construir um presente de natal para levarmos para nossa casa.






E sendo Natal a todos desejamos que seja uma época de amor, de alegria, de afeto, de proximidade, de diversão, de conforto, de reflexão e de carinho. E sendo Natal a todos desejamos que os sonhos e desejos de cada um se realizem. E sendo Natal a todos desejamos um ...


FELIZ NATAL!

domingo, 9 de dezembro de 2018

Um processo vivido é um processo aprendido

A Lebre Rosita e a Tartaruga D. Lentidão entraram na nossa sala pelas mãos do J., que nos encantou com o conto da história "A Lebre e a Tartaruga".


Dia após dia, a Rosita e a D. Lentidão foram integrando o nosso quotidiano: umas vezes apenas em jeito de observação das páginas do livro do J., outras vezes com a oportunidade de escutarmos esta história, tanto pela voz do J., como pela minha própria voz. Dia após dia, a Lebre e a Tartaruga foram integrando o nosso grupo e o entusiasmo foi-se tornando cada vez maior.

O livro do J. encontrava-se em cima da mesa. A L., que por lá estava a passar, vê-o e diz-me "Carolina, é a Rosita!". De início não percebo o que me quer dizer e, por isso, peço-lhe que me diga quem é a Rosita. L. responde-me: "é da história do J.!"
Registo de observação

Ao tomarmos consciência deste interesse do grupo, que nesta fase até já contava algumas ações da história autonomamente, eu e a Drica lançamos ao grupo a proposta de fazermos o reconto da mesma. Claro que a resposta foi mais do que afirmativa!

Nas sessões de Música com a Margarida, andavamos a explorar as sonoridades de diferentes materiais do nosso quotidiano. Por isso, decidimos lançar-lhe a proposta de nos ajudar a musicalizar este reconto. Claro que a resposta também foi afirmativa!

Demos, então, início à preparação de todo este reconto.

Nas sessões com a Margarida, exploramos diferentes objetos, descobrimos vários sons até que encontramos a composição musical perfeita.



Para apoiar o reconto de uma história, os suportes visuais revestem-se de capital importância. Não só para quem conta a história, mas, também, para quem assiste à mesma. Por esse motivo, acordamos que iríamos construir marionetas para contar a história: uma lebre e uma tartaruga.

Sabíamos que a Joana, mãe da V., faz muito bem marionetas e, por isso, pedimos-lhe ajuda para a concretização desta tão árdua tarefa. Assim, recebemos a Joana na nossa sala e foi um momento de verdadeira exploração e descoberta.

A Joana começou por propor que construíssemos a Tartaruga D. Lentidão com caixas de ovos e que a pintassemos de verde. Concordamos e pusemos mãos à obra.

Com a ajuda da Joana cortamos a caixa de ovos.



Chegada a hora de pintar a D. Lentidão, cada um de nós encontrou diferentes estratégias e materiais para o fazer.






Chegou, agora, a vez de construirmos a Lebre Rosita e, para o fazermos, a Joana propos que usassemos tecido para a montarmos e que a revestissemos com papel crepe.








Com a partilha da Joana descobrimos novas utilizações de materiais que nos são tão conhecidos, reinventamos materiais e as suas utilizações, encantamo-nos com o produto final, mas, sobretudo, vivemos intensamente todo o processo.
Obrigado Joana por este momento tão rico!

Para enriquecermos o nosso reconto e para cativar ainda mais a audência que nos viria ouvir, decidimos construir um cenário. Acordamos, então, que neste cenário pintaríamos uma floresta, porque é neste local que decorre toda a ação da história.

"E se fossemos ao parque apanhar paus para o cenário?", propus.
"Sim!", respondeu o grupo.
"E folhas também", propuseram o P., o Af. e o M.








Já de regresso à escola, chegou a hora de pintarmos o nosso cenário, para depois podermos, então, colar os paus e as folhas que apanhamos.








Já com todos os preparativos ultimados, era agora tempo de decidirmos quem queríamos convidar para assistir ao conto da nossa história e de fazermos os convites.



Chegado o momento tão ansiado, preparamos a nossa sala para receber a Sala da Mónica e a Sala da Marta R. . Uns mais tímidos, outros mais confiantes, todos cumprimos com a nossa tarefa e contamos a nossa história. No fim, é claro que recebemos uma grande salva de palmas.


A experiência de contar esta história foi, para nós, tão significativa, que decidimos partilhá-la, também, com a Sala da Carmo e com a Sala da Fátima.



Agora, o cenário que construímos, a Lebre Rosita e a Tartaruga D. Lentidão integram verdadeiramente o nosso quotidiano. Estão na nossa sala à disposição de quem os quiser explorar.

Um processo que é vivido é um processo que é aprendido. E é com estes processos que as aprendizagens se constroem, porque o conhecimento é para ser vivido, explorado e partilhado. Aqui na sala vivemos verdadeiramente num clima de livre exploração e de livre comunicação e é nele que alicerçamos todas as nossas produções culturais.

Aqui na sala vivemos em aprendizagem!