segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Mas, afinal, onde é que nós moramos?

A sala da Marta B. realizou um projeto sobre casas, que partilhou connosco. No seguimento desse projeto, ofereceram-nos diferentes imagens de casas que trouxemos para a nossa sala.

Na reunião da manhã, observamos as imagens que nos tinham sido oferecidas e dialogamos sobre as mesmas. Rapidamente compreendemos que, nestas imagens, conseguíamos observar duas tipologias diferentes de casas: vivendas e prédios.


Ao perceber o nosso interesse, a Drica propos-nos que fossemos descobrir se moramos em vivendas ou em apartamentos.
Lançamos o desafio às nossas famílias de trazerem para a nossa sala fotografias da nossa casa e iniciamos, assim, a nossa pesquisa.

Dia após dia as fotografias das nossas casas foram entrando na nossa sala e foram-se apresentando como o suporte das nossas comunicações. 





Partilhamos com os nossos pares a fotografia da nossa casa, dissemos-lhes em que casa moramos e, até, o que encontramos na nossa casa.

"É a minha casa. Tem uma piscina." (G.)
"É a minha casa. Estes são os vizinhos." (A.)
"Eu moro numa vivenda" (L.)

O espaço é, na nossa sala, entendido como um local "de encontro e de atividade partilhada, onde se fazem fluir circuitos de comunicação sobre as vidas que se cruzam diariamente, as paredes contam as vidas da creche ... para que crianças, famílias e profissionais se envolvam numa construção mútua de significados e de aprendizagens, fazendo conexões entre mundos" (Folque & Bettencourt, 2018, p.127). Por esse motivo, decidimos expor as fotografias das nossas à porta da nossa sala, para partilharmos com a comunidade algo que nos é tão importante.


Por termos feito esta exposição descobrimos, por exemplo, que a R. e o J. são vizinhos, mas, curiosamente, nunca se tinham cruzado. Descobriram-no naquele momento. Com esta exposição e com os diálogos que íamos realizando em torno das fotografias que nos chegavam, a casa de cada um de nós tornou-se conhecida para os demais e, rapidamente, todos nos sentimos capazes de dialogar sobre estas casas, apresentando-as a quem de novo entrava na nossa sala.

A Ana foi à nossa sala. Ao observar as fotografias das casas que se encontravam à porta da sala perguntou a R. do que é que se tratava. R. apresentou cada uma das casas que se observava nas fotografias, referenciando a criança que habitava a mesma. Referiu, até, alguns pormenores mais específicos de algumas destas casas.
Registo de observação

Ainda que algumas fotografias não nos tivessem chegado, os diálogos em casa foram espelhando estas descobertas e, com efeito, mesmo as crianças que não nos trouxeram as suas fotografias sabiam contar-nos se moravam numa vivenda ou num apartamento. Questionaram as suas famílias e, sempre de forma muito entusiástica, partilharam connosco a resposta que haviam descoberto. A participação é, sem qualquer margem para dúvidas, "um meio de aprendizagem com valor em si mesmo e um direito fundamental da infância que reforça os valores democráticos" (Tomás & Fernandes, 2011, p.259).

Depois de muito conversarmos quisemos, ainda, saber se moram mais crianças em vivendas ou em prédios e, para isso, fizemos dois conjuntos: o das vivendas e o dos prédios. Descobrimos, então, que vivem mais crianças em prédios (11 crianças) do que em vivendas (2 crianças).



Ao envolvermo-nos de forma tão entusiástica e ativa neste projeto o sentido de pertença ao grupo aprofundou-se verdadeiramente. Tornamos o eu em nosso. Demos significados ao que era dos outros, atribuindo-lhes sentidos conjuntos. Cooperamos e aprendemos, porque é em cooperação que construímos o nosso conhecimento.

"Quando as crianças desenvolvem um sentido de pertença ao contexto e lhes são oferecidas oportunidades de participação, mais facilmente se envolvem, revelam bem estar emocional e motivação para aprender."
(Luís, Andrade & Santos, 2015, p.521)

Referências bibliográficas:
Folque, M. & Bettencourt, M. (2018). O Modelo Pedagógico do Movimento da Escola Moderna em Creche. In Oliveira-Formosinho, J. & Araújo, S. B. (Orgs.). Modelos Pedagógicos para a Educação em Creche (pp.113-138). Porto: Porto Editora.

Luís, J. F. Andrade, S. & Santos, P. C. (2015). A atitude do educador de infância e a participação da criança como referenciais de qualidade em educação. Revista Brasileira de Educação, 61(20), 520-541.

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