domingo, 3 de fevereiro de 2019

Uma manhã de culinária

Os diálogos de planeamento são constantes na nossa sala, uma vez que os mesmos permitem que as crianças beneficiem "da sua diversidade, das capacidades e competências de cada criança, num processo de partilha facilitador da aprendizagem  e do desenvolvimento de todos e de cada um" (Silva, 1997, citado por Vala & Guedes, 2015, p.57). As quintas feiras de manhã são dedicadas à cultura alimentar na nossa sala. Esta semana planeamos em grupo, logo na segunda feira, que faríamos panquecas no momento de cultura alimentar desta semana. Mal sabíamos, contudo, a manhã de culinária que nos esperava.


Ao iniciarmos a reunião da manhã, a G. apresentou-nos uma caixa com tangerinas que trazia da sua casa. Queria ensinar-nos a descascá-las e, por isso, sem permitir que nos perdêssemos em grandes diálogos, disse "descacam-se assim, com as mãos". Distribuiu, então, as tangerinas pelos seus pares, que a observaram atentamente para descobrirem como é que as mesmas se descascavam. Com a tarefa cumprida, era, agora, tempo de comermos tangerinas como reforço da manhã.


Ainda nesta reunião da manhã, a Ma. partilhou connosco que tinha trazido bolo para partilhar com todos nós. Abriu, então, a sua lancheira e, do seu interior, retirou duas fatias de bolo, que partiu em pedaços mais pequenos e distribuiu por todo o grupo.



De barrigas saciadas e de apetite aguçado, arregaçamos as nossas mangas e seguimos com direção ao refeitório da nossa escola. Chegara o tão esperado momento: o de cozinhar as panquecas! Com todos os alimentos preparados, seguimos os passos da receita e confecionamos as nossas panquecas. À hora do lanche, a Drica ajudou-nos a cozinhá-las na frigideira e seguiu-se, então, o mesmo mais ansiado: provar e saborear as deliciosas panquecas. E que boas que estavam!


Ao longo de todos estes momentos, "quero mais!" foi a frase que mais se fez ouvir. A ela segui-se, sempre, uma explicação de que só devemos repetir uma comida quando temos a certeza plena de que todas as pessoas que partilham esta refeição connosco já a provaram. É por aprendizagens como estas que denominamos estes momentos de cultura alimentar e que lhes concedemos tanta importância. É por diálogos como estes que acreditamos que as crianças constroem "o seu pensamento individual, coletivamente" (Artur, 2005).

Na nossa escola acreditamos nas crianças! Entendemo-las como seres competentes, dotados de saberes e coconstrutores da nossa cultura. Na nossa sala valorizamos, por isso, as partilhas que nos chegam de casa e entendemo-las como a base do currículo emergente em que tanto acreditamos. Na nossa escola defendemos convictamente que "a escola, como a vida, conjuga-se sempre no plural, acrescenta-se no diverso e desafia-se no complexo" (Peças, 1999, p.56). Acreditamos, por isso,  no poder da cooperação, da vida em comunidade e da valorização da diferença. Acreditamos que as aprendizagens se constroem socialmente e em interação com os outros e com o espaço. Acreditamos que num clima de livre expressão e de valorização da cultura de cada um se constrói a educação. E num clima assim há sempre tempo para um abraço!


E que no nosso processo de construção de aprendizagens nunca nos faltem as partilhas e os afetos.

Referências bibliográficas:

Peças, A. (1999). Uma cultura para o trabalho de projecto, Escola Moderna, 5, 56-61.

Vala, A. & Guedes, M. (2015). A importância das interações na construção das aprendizagens, Escola Moderna, 3, 53-63.

1 comentário:

  1. Que delícia de ler... Um trabalho verdadeiramente significativo para as crianças. Foi um prazer partilhar a sala consigo Carolina!!

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