Os diálogos de planeamento são constantes na nossa sala, uma vez que os mesmos permitem que as crianças beneficiem "da sua diversidade, das capacidades e competências de cada criança, num processo de partilha facilitador da aprendizagem e do desenvolvimento de todos e de cada um" (Silva, 1997, citado por Vala & Guedes, 2015, p.57). As quintas feiras de manhã são dedicadas à cultura alimentar na nossa sala. Esta semana planeamos em grupo, logo na segunda feira, que faríamos panquecas no momento de cultura alimentar desta semana. Mal sabíamos, contudo, a manhã de culinária que nos esperava.
Ao iniciarmos a reunião da manhã, a G. apresentou-nos uma caixa com tangerinas que trazia da sua casa. Queria ensinar-nos a descascá-las e, por isso, sem permitir que nos perdêssemos em grandes diálogos, disse "descacam-se assim, com as mãos". Distribuiu, então, as tangerinas pelos seus pares, que a observaram atentamente para descobrirem como é que as mesmas se descascavam. Com a tarefa cumprida, era, agora, tempo de comermos tangerinas como reforço da manhã.
Ainda nesta reunião da manhã, a Ma. partilhou connosco que tinha trazido bolo para partilhar com todos nós. Abriu, então, a sua lancheira e, do seu interior, retirou duas fatias de bolo, que partiu em pedaços mais pequenos e distribuiu por todo o grupo.

De barrigas saciadas e de apetite aguçado, arregaçamos as nossas mangas e seguimos com direção ao refeitório da nossa escola. Chegara o tão esperado momento: o de cozinhar as panquecas! Com todos os alimentos preparados, seguimos os passos da receita e confecionamos as nossas panquecas. À hora do lanche, a Drica ajudou-nos a cozinhá-las na frigideira e seguiu-se, então, o mesmo mais ansiado: provar e saborear as deliciosas panquecas. E que boas que estavam!
Ao longo de todos estes momentos, "quero mais!" foi a frase que mais se fez ouvir. A ela segui-se, sempre, uma explicação de que só devemos repetir uma comida quando temos a certeza plena de que todas as pessoas que partilham esta refeição connosco já a provaram. É por aprendizagens como estas que denominamos estes momentos de cultura alimentar e que lhes concedemos tanta importância. É por diálogos como estes que acreditamos que as crianças constroem "o seu pensamento individual, coletivamente" (Artur, 2005).
Na nossa escola acreditamos nas crianças! Entendemo-las como seres competentes, dotados de saberes e coconstrutores da nossa cultura. Na nossa sala valorizamos, por isso, as partilhas que nos chegam de casa e entendemo-las como a base do currículo emergente em que tanto acreditamos. Na nossa escola defendemos convictamente que "a escola, como a vida, conjuga-se sempre no plural, acrescenta-se no diverso e desafia-se no complexo" (Peças, 1999, p.56). Acreditamos, por isso, no poder da cooperação, da vida em comunidade e da valorização da diferença. Acreditamos que as aprendizagens se constroem socialmente e em interação com os outros e com o espaço. Acreditamos que num clima de livre expressão e de valorização da cultura de cada um se constrói a educação. E num clima assim há sempre tempo para um abraço!
E que no nosso processo de construção de aprendizagens nunca nos faltem as partilhas e os afetos.
Referências bibliográficas:
Peças, A. (1999). Uma cultura para o trabalho de projecto, Escola Moderna, 5, 56-61.
Vala, A. & Guedes, M. (2015). A importância das interações na construção das aprendizagens, Escola Moderna, 3, 53-63.
Que delícia de ler... Um trabalho verdadeiramente significativo para as crianças. Foi um prazer partilhar a sala consigo Carolina!!
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